"Resenhas" de RPG: "Relaxa, gente, eu tenho uma poção!"

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Em bom bahianês, resenha é uma conversa,um "causo", uma história (na maioria das vezes cômica) , sobre algo e/ou alguém. E agora vou aproveitar para falar um pouco no meu blog a respeito desses casos engraçados que vez por outra acontecem na mesa, não importando se é numa aventura isolada ou em um longa campanha.

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Não achei as cores que queria, então vai essa mesmo...


Esse por exemplo eu joguei na escola, no inicio dos anos 2000 ("velho" são os chifres do seu pai!).

Eu tenho que confessar que eu sinto um pouco de saudade das minhas primeiras sessões de RPG. Era uma loucura. Os personagens se ferrando e fazendo besteira, tentando sobreviver a todo custo nas mãos de mestres que não facilitavam em nada a nossa vida, e os sistemas também não davam nenhuma colher de chá. Custo que geralmente se referia a própria vida, já que na época era assim: aventureiro de verdade vivia liso como corrimão.

Outra coisa "boa" eram as tabelas do mestre, que as vezes ele mesmo bolava, cheias de coisas aleatórias e estranhas que estavam lá só esperando pra te ferrar. E com essas duas coisas combinadas faziam uma certa situação se repetir com bastante frequência: viver achando itens mágicos e continuar sendo pobre demais para identificá-los!

Era mais ou menos assim:

Mestre: Vocês estão andando por um dos túneis e acham uma barril, com umas roupas sujas, uns pedações de madeira, uns lixos à toa. 
Jogador: Eu vou virar o barril e ver o que tem dentro! 
Mestre: OK, você revira tudo e só tem lixo mesmo, a não ser por dois frascos no fundo. Um com uma cor verde musgo, e outro com uma cor azul claro. 
Jogador: Duas poções? São mágicas? 
Mestre:São duas poções Você não consegue identificar, você não sabe. 

Pronto! Aquelas po*&@s nunca mais saiam da sua mochila. Você estava aí, vivendo de boa na lagoa,suave na nave {acrescente aqui sua expressão engraçadinha que quer dizer "tranquilo"} quando de repente acha um frasco com aparência estranha, que você não faz ideia à quem pertencia,ou do que seja. Mas que estava dentro de uma masmorra, então deve ser um tesouro! Afinal, tá dentro de uma garrafa, se não fosse valioso ninguém tinha guardado, não é? Aí você, o ser mais ganancioso da face do mundo do seu cenário, guarda aquilo pra sempre.

Ou quase sempre… 

Vai surgir aquele momento, pelo qual todo rpgista já passou. Momento em que tudo está perdido. Tá todo mundo morrendo. Todas as magias de cura acabaram,e as de ataque também. Os magos já saíram correndo, mas não antes dos ladrões que ninguém vê já fazem umas seis rodadas, o guerreiro prendendo o inimigo na sua frente já está fazendo as contas e rezando para que o monstro erre os próximos ataques. Enquanto isso você, que estava todo feliz pois tinha suas duas malditas poções, tá lá entrando em pânico.

Pois foi exatamente isso o que aconteceu. Uma bruxa deu uma surra na gente, combinando golpes de clava na nossa cabeça e magias como forma espectral e corpo gasoso.
O mago e o ladino se picaram (o que foi a primeira coisa que joguei na cara deles quando nos reencontramos).O clérigo foi pra terra dos pés juntos. O guerreiro já tava comprando a passagem pro mesmo lugar. O mestre vira para mim (outro ladino, pois eu entrei pra substituir o colega que faltou algumas vezes) e pergunta “O que você vai fazer?.

Pego a sua ficha e começa a ler ela inteira, do nome do personagem à mancha de Doritos e refri no rodapé na parte de trás. Minhas habilidades e equipamentos não vão servir pra mais nada agora e só podia contar com a sorte da aleatoriedade. Eu tinha duas opções… Ou melhor duas poções… a verde e a azul.

Usando um pouco da logica dos jogos de RPGs eletrônicos (FF, Secret of Mana, Legend of Zelda etc) para dar um "chute" mais preciso, conclui que o verde devia ser veneno ou magia, enquanto que o azul devia ser outra poção desconhecida. Como eu não precisava de magia e nem de veneno no meu corpo investi na azul. Lembro que a narração foi mais ou menos assim:

Ela tem uma aparência de água, mas um pouco azulada. O cheiro é suave, quase um perfume. A melhor parte é o gosto, talvez seja a melhor coisa que você já bebeu na vida. Uma boa coisa já que talvez seja a última coisa que você vá beber mesmo. Você espera alguns segundos e não acontece absolutamente nada. O guerreiro que estava prendendo o monstro morre na sua frente. Do seu grupo de seis pessoas só sobra você. A bruxa se aproxima, solta uma rugido e vem na sua direção, mas para antes de completar o golpe. Ela então te dar um olhar estranho, e antes que você possa reagir, agarra você com uma mão pelo pé, te erguendo e com a outra arranca suas armas. Ela te prende e te leva embora. 

A sessão acabou, pois bateu o sino do recreio ( a gente tinha 11 anos ainda, então não tínhamos vergonha de dizer "recreio", "merenda" e "brincar"). Mas antes de irmos pra sala todo mundo cobrou uma explicação do mestre e eis o que ele disse:

“OK, eu não sei como descrever isso então eu vou contar. Você bebeu uma poção do amor reverso.
"Hã? Como assim?"
" A poção do amor a pessoa não bebe e se apaixona pela primeira pessoa que vê? A do amor reverso faz com que 1ª pessoa que te olhe se apaixone. Você tem até a próxima sessão para tentar pensar no que você vai fazer enquanto ela te leva de refém”.

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Podia ser um bruxa top como essa...

Rapaz, que sorte do c@#@*&o! Claro que rolou a zoeira de agora eu virar gigolô da bruxa, mas ao menos, eu estava vivo!

No outro dia, conseguimos derrotar a bruxa. Os 2 magos e o ladrão voltaram, junto com o resto do grupo "feridos"*, prontos para me resgatar.

*"feridos" porque a galera fez um puta protesto contra o mestre pelos personagens terem morrido e este resolveu dizer que na verdade estes estava muto feridos, quase em coma. mas vivos.

Logo, o combate se reiniciou. O pau tava comendo no centro (de novo), mas dessa vez, os magos estavam cheios de magia e um deles conseguiu paralisar a bruxa, ainda que elea fosse se soltar no próximo round. O outro então tentou dar um final épico e foi conjurar uma bola de fogo matar a desgraçada de vez. Mas faltava mana o suficiente para poder usar magia (a gente usava um sistema de pontos de magia como 3D&T). Foi então que eu lembrei da poção verde e disse a fatídica frase:

"Relaxa, gente, eu tenho uma poção!"

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Mas era essa aqui que o mestre FDP me armou!


E aí eu entreguei a poção verde pro mago, que era muito amigo meu na época.Era.
Porque a gente descobriu da pior forma que aquilo era um veneno que tirava 2 de pv por 2d6 turnos!

Resumo da história: O mago começou a passar mal, o clérigo teve de cura-lo, a zorra da bruxa soltou-se e o combate recomeçou. Dos 7, só 3 sobraram de pé, eu incluso porque a bruxa ainda não conseguia me bater por causa da "poção do amor reverso" (me pergunto até hoje "O que Tchola fumou pra pensar nessa merda?") e bons resultados no minha rolagem de Carisma, o qual dizia coisas como "amor, eles me obrigaram a fazer isso.Se você acabar cm eles a gente vai ficar junto pra sempre!". Mas era só ela dar as costas pra meter a faca nas costas (literalmente!)

Meu amigo mago ficou puto e ficou sem aparecer por dias pra jogar.E quando voltou, a galera ficava zoando com a gente: "Relaxa, man, qualquer coisa, Deco tem uma poção pra você!"

Nunca mais a amizade foi a mesma. Embora não tenha sido só por esse erro que a gente parou de jogar junto.

Mas essa é uma outra história...   

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